Para quem por acaso não sabe, 25 de julho foi definido como Dia Nacional do Escritor por decreto governamental, em 1960, após o sucesso do I Festival do Escritor Brasileiro, organizado naquele ano pela União Brasileira de Escritores, por iniciativa de seu presidente, João Peregrino Júnior, e de seu vice-presidente, Jorge Amado.
Quem se dispõe a abrir um champagne pela data? E o que exatamente vamos comemorar?
A primeira pergunta lembrou-me a célebre distinção que o crítico francês Roland Barthes fazia entre écrivant e écrivain .
O écrivant é o escrevente, é aquele que está preocupado em transmitir sua mensagem mediante a palavra, explicando explicitamente, ensinando educadamente. Ele tem uma idéia e quer transmiti-la. E vai transmiti-la sem maiores delongas. Pão pão, queijo queijo.
O escrevente quase não se preocupa com a forma. Na maioria dos casos, nunca se preocupa de forma alguma com a forma. Está concentrado na tarefa de colocar o seu pensamento dentro de um envelope e endereçá-lo corretamente. O envelope é o texto, o livro, o que for, base material apenas, veículo. O fundamental, para o escrevente, é que o leitor entenda o conteúdo, e ponto final. O envelope pode ser jogado fora.
Já o écrivain , o escritor propriamente dito (ou propriamente escrito), cuida do envelope com cuidado e estilo. E a carta vai, mesmo com o envelope vazio. Porque o vazio também diz muito. O envelope é a carta. As palavras e as idéias são uma só realidade literária.
O escritor convence graças ao poder de sua paixão pela palavra, e não prioritariamente pela paixão que dedique a uma causa. Ou melhor, a sua causa sempre foi e será a palavra, caminho e céu de todas as causas. E de todas as paixões.
O texto literário nasce das mãos do escritor. O texto do escrevente pode até conter alguns traços literários, mas são um recurso a mais para instrumentalizar melhor a palavra.
A rigor, os escreventes, os que escrevem para vencer, para convencer, para desenvolver teorias e ganhar adesões, deveriam comemorar seu dia em outra data. Talvez no dia do intelectual, ou no dia do retórico, ou no dia do autor de teses.
No dia do escritor comemoramos a solidão diante da palavra, a verdade, o medo, a alegria, o amor indizíveis de só saber escrever.
[Gabriel Perissé é autor dos livros "Ler, pensar e escrever" (Ed. Arte e Ciência) e "O leitor criativo" (Omega Editora). Recentemente lançou "Palavra e origens" (Editora Mandruvá).]
Quem se dispõe a abrir um champagne pela data? E o que exatamente vamos comemorar?
A primeira pergunta lembrou-me a célebre distinção que o crítico francês Roland Barthes fazia entre écrivant e écrivain .
O écrivant é o escrevente, é aquele que está preocupado em transmitir sua mensagem mediante a palavra, explicando explicitamente, ensinando educadamente. Ele tem uma idéia e quer transmiti-la. E vai transmiti-la sem maiores delongas. Pão pão, queijo queijo.
O escrevente quase não se preocupa com a forma. Na maioria dos casos, nunca se preocupa de forma alguma com a forma. Está concentrado na tarefa de colocar o seu pensamento dentro de um envelope e endereçá-lo corretamente. O envelope é o texto, o livro, o que for, base material apenas, veículo. O fundamental, para o escrevente, é que o leitor entenda o conteúdo, e ponto final. O envelope pode ser jogado fora.
Já o écrivain , o escritor propriamente dito (ou propriamente escrito), cuida do envelope com cuidado e estilo. E a carta vai, mesmo com o envelope vazio. Porque o vazio também diz muito. O envelope é a carta. As palavras e as idéias são uma só realidade literária.
O escritor convence graças ao poder de sua paixão pela palavra, e não prioritariamente pela paixão que dedique a uma causa. Ou melhor, a sua causa sempre foi e será a palavra, caminho e céu de todas as causas. E de todas as paixões.
O texto literário nasce das mãos do escritor. O texto do escrevente pode até conter alguns traços literários, mas são um recurso a mais para instrumentalizar melhor a palavra.
A rigor, os escreventes, os que escrevem para vencer, para convencer, para desenvolver teorias e ganhar adesões, deveriam comemorar seu dia em outra data. Talvez no dia do intelectual, ou no dia do retórico, ou no dia do autor de teses.
No dia do escritor comemoramos a solidão diante da palavra, a verdade, o medo, a alegria, o amor indizíveis de só saber escrever.
[Gabriel Perissé é autor dos livros "Ler, pensar e escrever" (Ed. Arte e Ciência) e "O leitor criativo" (Omega Editora). Recentemente lançou "Palavra e origens" (Editora Mandruvá).]
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