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sexta-feira, 31 de julho de 2009

Quintanares



O poeta MARIO QUINTANA nasceu em Alegrete/RS, em 30 de julho de 1906 e faleceu em Porto Alegre, capital gaúcha, onde onde residia, em 05-05-1994. Aqui, faço uma homenagem ao homem que descreveu tão bem, entre tantas coisas, a cidade do meu morar, na data em que completaria 103 anos.

"Esta vida é uma estranha hospedaria,
De onde se parte quase sempre às tontas,
Pois nunca as nossas malas estão prontas,
E a nossa conta nunca está em dia."
(M. Quintana)




Um pouco de Quintana escrito por Quintana


"Nasci em Alegrete, em 30 de julho de 1906. Creio que foi a principal coisa que me aconteceu. E agora pedem-me que fale sobre mim mesmo. Bem! Eu sempre achei que toda confissão não transfigurada pela arte é indecente. Minha vida está nos meus poemas, meus poemas são eu mesmo, nunca escrevi uma vírgula que não fosse uma confissão. Ah! mas o que querem são detalhes, cruezas, fofocas... Aí vai! Estou com 78 anos, mas sem idade. Idades só há duas: ou se está vivo ou morto. Neste último caso é idade demais, pois foi-nos prometida a Eternidade.
Nasci no rigor do inverno, temperatura: 1 grau; e ainda por cima prematuramente, o que me deixava meio complexado, pois achava que não estava pronto. Até que um dia descobri que alguém tão completo como Winston Churchill nascera prematuro - o mesmo tendo acontecido a sir Isaac Newton! Excusez du peu...
Prefiro citar a opinião dos outros sobre mim. Dizem que sou modesto. Pelo contrário, sou tão orgulhoso que acho que nunca escrevi algo à minha altura. Porque poesia é insatisfação, um anseio de auto-superação. Um poeta satisfeito não satisfaz. Dizem que sou tímido. Nada disso! Sou é caladão, introspectivo. Não sei porque sujeitam os introvertidos a tratamentos. Só por não poderem ser chatos como os outros?
Exatamente por execrar a chatice, a longuidão, é que eu adoro a síntese. Outro elemento da poesia é a busca da forma (não da fôrma), a dosagem das palavras. Talvez concorra para esse meu cuidado o fato de ter sido prático de farmácia durante cinco anos. Note-se que é o mesmo caso de Carlos Drummond de Andrade, de Alberto de Oliveira, de Érico Veríssimo - que bem sabem (ou souberam) o que é a luta amorosa com as palavras".


(*) Texto escrito pelo poeta para a revista Isto É


Um pouco de Quintana sobre a morte

Amigos, não consultem os relógios quando um dia me for de vossas vidas... Porque o tempo é uma invenção da morte: não o conhece a vida - a verdadeira - em que basta um momento de poesia para nos dar a eternidade inteira.


Quando morremos, acontece com as nossas esperanças o mesmo que com esse brinquedo de estátuas, em que todos se imobilizam de súbito, cada qual na posição do momento. Mas as esperanças têm menos paciência. E vão imediatamente continuar, no coração dos outros, o seu velho sonho interrompido.


A morte é a libertação total: a morte é quando a gente pode, afinal, estar deitado de sapatos.


A morte deveria ser assim: um céu que pouco a pouco anoitecesse e a gente nem soubesse que era o fim...

UM POUCO EM POEMAS

DAS UTOPIAS

Se as coisas são inatingíveis...

ora!não é motivo para não querê-las...

Que tristes os caminhos, se não fora

a mágica presença das estrelas!

INSCRIÇÃO PARA UMA LAREIRA

A vida é um incêndio: nela

dançamos, salamandras mágicas

Que importa restarem cinzas

se a chama foi bela e alta?

Em meio aos toros que desabam,

cantaremos a canção das chamas!

Cantemos a canção da vida,

na própria luz consumida...


DA SAUDADE

A saudade que dói mais fundo

- e irremediavelmente -

é a saudade que temos de nós.

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