Viver está me deixando louca. Não sei mais do que sou capaz. Mas podem manter a calma. A fase atual é da louca inofensiva. Estou me transformando em uma louca do bem, tipo maluco beleza, que não precisa ser retirado do convívio social, uma vez que está completamente integrado à loucura do mundo atual. Por conta da minha demência, ando tendo uns sonhos estranhos. De paz no mundo, da descoberta de vacinas e remédios para as doenças que matam, da solução para os meninos nas esquinas pedindo um pouco do que comer, do fim da corrupção. Pura loucura.
Como diria minha psiquiatra, somente aqueles em plena consciência e sem neurose se permitem sonhar. A loucura é que alimenta os sonhos. Loucos são os que se trancam e não acreditam que tudo pode mudar. Meus momentos de loucura têm sido alternados e surpreendentes. Num destes, estava disposta a escrever sobre a corujice de mãe que senti ao ver a Gabriela dançar, cheia de jeito e molejo, no espetáculo que encerrava a temporada de artes do seu colégio. E confessar, com medo, que ela já é pré-adolescente.
O tema do espetáculo tratava sobre “Amor, todo mundo quer”, o que se encaixava perfeitamente na minha proposta de coluna. Pois mãe que se preze, em função do amor, sempre acha a sua filha mais bonita, jeitosa e perfeita. Mas, pensando justamente nesse amor materno e no futuro da minha filha, fui invadida pelo temor da informação de que está ocorrendo, no Brasil, uma incidência maior de casos de AIDS em mulheres de cor negra, preferencialmente, em cidadãs que vivem em situação de vulnerabilidade.
Ninguém merece. É muita discriminação. Mulher, afro-descendente e pobre. Agora também faz parte do grupo de risco de transmissão do HIV. Mais um item para a lista da discriminação. A epidemia que ceifa vidas e mais vidas em todo o mundo, no Brasil, está atingindo mais as mulheres de cor negra, na faixa etária de 17 a 24 anos, que vivem em condições econômicas nem tão favoráveis. Do perfil do grupo de risco de homossexualismo e usuário de drogas injetáveis, logo que a doença foi detectada, já se passou por outros grupos antes. Talvez nenhum carregue tanto preconceito quanto o último.
A mulher negra passa a assinar o novo grupo de risco de incidência de novos casos de AIDS no Brasil, junto com os homossexuais masculinos adolescentes, grupo que apresentou crescimento conforme os últimos dados da ONU sobre a doença, revelados para marcar o 1º de dezembro, Dia Mundial de Luta Contra a AIDS. Talvez sejam mulheres casadas que confiaram na “estabilidade” da relação. Ou então, mulheres com vários parceiros, que simplesmente esqueceram que a lembrança do preservativo não é só do homem. Podem ser mulheres que usavam drogas injetáveis ou profissionais do sexo. Não se sabe.
Na conversa com autoridades do assunto, eles batem com insistência na mesma tecla: “sempre deve se usar o preservativo”. Não importa com quem vai se ter a relação. Mesmo que seja um parceiro de anos. Ele pode ter um passado que inviabilize o seu futuro. E depois, é tarde. Não existe encontro de urgência, nem uma bebida a mais, nem uma escapada qualquer, nem a confiança cega que justifique o não-uso do preservativo. Assim como quem leva o batom para retocar a maquiagem, a mulher deve aprender a ter sempre um preservativo na bolsa.
Eu queria escrever de girassóis, das luzes do Natal na cidade, que talvez consiga desenvolver um pouco do meu espírito natalino adormecido, da pauta descontraída que fui fazer dos Jogos de Gays e Lésbicas, do Grêmio que voltou a me dar alegria e da torcida que fiz depois de muito tempo sem saber sequer o nome do goleiro do meu time. Do lindo cartão que ganhei do meu afilhado amado lá do Uruguai e do orgulho que tenho dele. Não consegui. Faz parte da minha loucura preocupar-me com o aumento do preconceito e da discriminação.
Como diria minha psiquiatra, somente aqueles em plena consciência e sem neurose se permitem sonhar. A loucura é que alimenta os sonhos. Loucos são os que se trancam e não acreditam que tudo pode mudar. Meus momentos de loucura têm sido alternados e surpreendentes. Num destes, estava disposta a escrever sobre a corujice de mãe que senti ao ver a Gabriela dançar, cheia de jeito e molejo, no espetáculo que encerrava a temporada de artes do seu colégio. E confessar, com medo, que ela já é pré-adolescente.
O tema do espetáculo tratava sobre “Amor, todo mundo quer”, o que se encaixava perfeitamente na minha proposta de coluna. Pois mãe que se preze, em função do amor, sempre acha a sua filha mais bonita, jeitosa e perfeita. Mas, pensando justamente nesse amor materno e no futuro da minha filha, fui invadida pelo temor da informação de que está ocorrendo, no Brasil, uma incidência maior de casos de AIDS em mulheres de cor negra, preferencialmente, em cidadãs que vivem em situação de vulnerabilidade.
Ninguém merece. É muita discriminação. Mulher, afro-descendente e pobre. Agora também faz parte do grupo de risco de transmissão do HIV. Mais um item para a lista da discriminação. A epidemia que ceifa vidas e mais vidas em todo o mundo, no Brasil, está atingindo mais as mulheres de cor negra, na faixa etária de 17 a 24 anos, que vivem em condições econômicas nem tão favoráveis. Do perfil do grupo de risco de homossexualismo e usuário de drogas injetáveis, logo que a doença foi detectada, já se passou por outros grupos antes. Talvez nenhum carregue tanto preconceito quanto o último.
A mulher negra passa a assinar o novo grupo de risco de incidência de novos casos de AIDS no Brasil, junto com os homossexuais masculinos adolescentes, grupo que apresentou crescimento conforme os últimos dados da ONU sobre a doença, revelados para marcar o 1º de dezembro, Dia Mundial de Luta Contra a AIDS. Talvez sejam mulheres casadas que confiaram na “estabilidade” da relação. Ou então, mulheres com vários parceiros, que simplesmente esqueceram que a lembrança do preservativo não é só do homem. Podem ser mulheres que usavam drogas injetáveis ou profissionais do sexo. Não se sabe.
Na conversa com autoridades do assunto, eles batem com insistência na mesma tecla: “sempre deve se usar o preservativo”. Não importa com quem vai se ter a relação. Mesmo que seja um parceiro de anos. Ele pode ter um passado que inviabilize o seu futuro. E depois, é tarde. Não existe encontro de urgência, nem uma bebida a mais, nem uma escapada qualquer, nem a confiança cega que justifique o não-uso do preservativo. Assim como quem leva o batom para retocar a maquiagem, a mulher deve aprender a ter sempre um preservativo na bolsa.
Eu queria escrever de girassóis, das luzes do Natal na cidade, que talvez consiga desenvolver um pouco do meu espírito natalino adormecido, da pauta descontraída que fui fazer dos Jogos de Gays e Lésbicas, do Grêmio que voltou a me dar alegria e da torcida que fiz depois de muito tempo sem saber sequer o nome do goleiro do meu time. Do lindo cartão que ganhei do meu afilhado amado lá do Uruguai e do orgulho que tenho dele. Não consegui. Faz parte da minha loucura preocupar-me com o aumento do preconceito e da discriminação.
(*coluna escrita por Márcia Fernanda Peçanha Martins e publicada originalmente no site www.coletiva.net em 07/12/2005)
(**) Informações do Programa Nacional de DST e Aids do Ministério da Saúde
- hoje, a maior preocupação é a taxa de incidência da epidemia entre pessoas acima dos 50 anos, que dobrou entre 1996 e 2006 - passou dos 7,5 casos por 100 mil habitantes para 15,7.
- a maioria dos casos de AIDS, porém, ainda está na faixa etária de 25 a 49 anos.
- dos 47.437 casos de AIDS notificados desde o início da epidemia em pessoas acima dos 50 anos, 29.393 (62%) foram registrados de 2001 a junho de 2008.
- desse último grupo, 37% são mulheres e 63%, homens.
2 comentários:
Belo texto, Márcia, com informações inportantes sobre odesenrolar desta doençãoque continua firme desafiando a Medicina e a todos nós. Eutambém queria ler sobre flores,poemas e outras coisas amenas,mas a realidade fala mais alto. Parabéns, amiga.
Basi
Que bom que vc gostou e apreciou as informações. Às vezes, penso que nós deveriámos sempre mesclar os assuntos para transitar pelas rimas feias, também, não é ? E em se tratando de saúde, toda informação é necessária.
abs
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