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quinta-feira, 17 de julho de 2008

Homens não choram

Quem não ouviu na vida a celebre frase? Homens não choram.
Será? O que você faz para não chorar?
Numa tarde quente de qualquer estação do ano, na Amazônia passou-se o acontecido, mas poderia ter se passado em qualquer canto esquecido, nalgum profundo rincão, deste lamaçal fedorento que chamamos de nação. Depois de uma apresentação, mais uma, numa cidade qualquer, os olhos negros da menina de pele jambo, cor de cuia, como se diz no sul, num mestiço de branco com índio, nessa confusão visceral de cores humanas que embeleza nosso sofrido povo. O que enfeia são as desigualdades.
Percorrendo o estado apresentando teatro de bonecos para crianças carentes, poderia eu também, ter estado frente a frente com a mesma situação. O grupo de teatro de meu amigo, foi para o norte. Diante dele, uma garota de aparentes oito anos, mas com onze na pratica, pedia chorosa para ir embora dali. Queria fazer teatro de bonecos. Queria vir para o sul, para o eldorado do bem viver. Queria fugir de seus pais. Queria fugir de sua vida de miséria. Queria estar em qualquer lugar do mundo menos ali.
O homem chorava ainda, enquanto me contava tal fato. Não era um choro de falta de masculinidade, como pregam os sem neurônios, mas uma dor latente. Uma sensação de impotência moral. E que só é sentida pela minoria que ainda tem moral. Estas pessoas jogadas como lixo jogado numas esquinas quaisquer, não existem para o mundo das decisões políticas. Ou melhor, não existem na hora de votar, mas sim, inexistentes na hora de receber o atendimento necessário para serem tratadas como pessoas.
O brilho no olho da garota, nascido no contato com os seres mágicos feitos de madeira, espuma, tecido entre outros, morria no momento que soube que nada poderia ser feito, pois apesar da vontade, não tinha ele, o poder necessário para fazer alguma coisa, quem dera que quem tivesse o poder tivesse as mesmas sensações. Mas isso já é pedir demais para animais selvagens dispostos na condição de administradores. Ainda é cedo, mais um dia, lá na frente, essa guerreira sobrevivente, descobrirá que ela, é como os títeres, só que não consegue ver seus manipuladores, exceto quando for tempo de eleição.
Ainda guardo na memória, as palavras de uma garota:
- Como é bom teatro de bonecos, né?
Disse ela para uma amiga. Acende o olhar, num alento alegre, pelo menos, mais duradouro que promessas eleitorais.

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