Saudade deste mundinho (*)
A hora da verdade chegou. Não consigo mais disfarçar e nem ficar enrolando em casa fingindo que “tou nem aí, tou nem aí”. Fiquem calmos. Não se trata do acerto de contas final entre esta colunista e o criador do Universo e nem da revelação do terceiro segredo de Fátima. Apenas uma constatação. E espero contar com o apoio de vocês (ou não... sintam-se livres) se concordarem com a minha teoria. Jornalista é uma raça complicada e eterna insatisfeita. Se está tudo calmo, desconfia. Se o número de pautas extrapola, reclama e maldiz a chefia. Se trabalha no feriado, queria folgar. Se recebe folga, bem, aí, gostaria de trabalhar.
No meu caso específico, jamais havia pensado em retornar à redação de veículo após sete anos fazendo uma assessoria de imprensa totalmente diferente, engajada, acreditando e defendendo um projeto de construção de uma cidade melhor. Mas como é preciso ouvir a voz do povo, ou melhor, o voto do povo, deixei a comunicação da Prefeitura de Porto Alegre (não é segredo para ninguém das minhas escolhas políticas) e ingressei, direto, sem férias e sem tempo para refletir, na reportagem do Correio do Povo. Num período turbulento, final de ano, cobrindo férias e repórter indo para a Sucursal de Praia e talicoisa.
Confesso. Pensei com os “botões da blusa que eu usava” não agüentar a primeira quinzena. Pega a pauta, vai correndo lá na Fiergs ou na Federasul, matéria para a Economia (oba), dispensa o fotógrafo, volta para a Redação, redige. Pouco acostumada, quase escrevo uma tese, o que não combina com o espaço do Correio do Povo (trabalho para o editor cortar). Assim que terminar, segue para uma entrevista na Prefeitura (epa, matéria de Geral e provável chá de banco) e fica com o fotógrafo que depois vamos fazer uma ambiental porque o relógio da praça próxima ao jornal marcou 35 graus.
Afastada do trabalho no Correio por motivos de saúde, em casa de mãos soltas, pés descalços, sem hora para nada, liberdade para cinema, DVD e CDs, folga nos feriados, nenhuma preocupação com escala de Natal e Ano Novo. Quer situação melhor? Sim... Sim... Mil vezes sim. Os meus colegas de Redação vão pensar que o meu problema de saúde é mental (juro que não é). Quando a gente fica um tempo sem reclamar do lead cortado; da pauta furada; do fotógrafo que não nos esperou; de trabalhar no feriado de carnaval e fazer plantão de polícia no domingo, é que percebe que isso integra o nosso cotidiano. E faz falta.
Vencida pelo descanso, resolvi visitar, mais demoradamente, a redação do Correio do Povo no início da semana. Entrando no elevador centenário, já começo a experimentar um arrepio, algo parecido com saudade de amor partido. A primeira encrenca é virar a página e olhar aquele lugar onde você sentava e redigia as matérias. Dá uma coceira nos dedos e eles quase se governam e atacam as teclas do micro. Segura. Amarra as mãos que tu está de licença! Na conversa com a chefe de Reportagem, surgem umas idéias de pautas. Imediatamente, faço um relato para o pauteiro e me comprometo a alimentá-lo mais através de emails. Como a Gabriela Martins Trezzi, minha filha linda, me acompanhava e não queria ela desfilando muito pela redação porque ela “tá uma gata” e para não pegar o gosto pela profissão, não demorei. Tempo suficiente para relembrar a correria das pautas, o dead-line, dar uma beijoca na Sissi, lembrar a secretária Aline que quero agenda, conversar rapidinho com as gurias que eram minhas vizinhas de mesa, de abanar para alguns fotógrafos. Não consegui falar com a minha amiga Marcela. Nem cumprimentar o Diego pelo Prêmio Press. Nem abraçar os motoristas Negrini, Guigui, Beltran e Vladimir (os mais íntimos).
Foi o tempo necessário para reforçar que jornalista é uma espécie que nunca está contente. Talvez resida aí a principal qualidade da profissão. A insatisfação. Uma inconformidade que nos leva sempre a procurar mais do que nos é solicitado. Que nos impulsiona a ler a pauta nas entrelinhas. Que nos produz uma desconfiança em tudo. Que nos torna inconstantes. E o tempo ideal para sentir uma saudade louca deste mundinho.
No meu caso específico, jamais havia pensado em retornar à redação de veículo após sete anos fazendo uma assessoria de imprensa totalmente diferente, engajada, acreditando e defendendo um projeto de construção de uma cidade melhor. Mas como é preciso ouvir a voz do povo, ou melhor, o voto do povo, deixei a comunicação da Prefeitura de Porto Alegre (não é segredo para ninguém das minhas escolhas políticas) e ingressei, direto, sem férias e sem tempo para refletir, na reportagem do Correio do Povo. Num período turbulento, final de ano, cobrindo férias e repórter indo para a Sucursal de Praia e talicoisa.
Confesso. Pensei com os “botões da blusa que eu usava” não agüentar a primeira quinzena. Pega a pauta, vai correndo lá na Fiergs ou na Federasul, matéria para a Economia (oba), dispensa o fotógrafo, volta para a Redação, redige. Pouco acostumada, quase escrevo uma tese, o que não combina com o espaço do Correio do Povo (trabalho para o editor cortar). Assim que terminar, segue para uma entrevista na Prefeitura (epa, matéria de Geral e provável chá de banco) e fica com o fotógrafo que depois vamos fazer uma ambiental porque o relógio da praça próxima ao jornal marcou 35 graus.
Afastada do trabalho no Correio por motivos de saúde, em casa de mãos soltas, pés descalços, sem hora para nada, liberdade para cinema, DVD e CDs, folga nos feriados, nenhuma preocupação com escala de Natal e Ano Novo. Quer situação melhor? Sim... Sim... Mil vezes sim. Os meus colegas de Redação vão pensar que o meu problema de saúde é mental (juro que não é). Quando a gente fica um tempo sem reclamar do lead cortado; da pauta furada; do fotógrafo que não nos esperou; de trabalhar no feriado de carnaval e fazer plantão de polícia no domingo, é que percebe que isso integra o nosso cotidiano. E faz falta.
Vencida pelo descanso, resolvi visitar, mais demoradamente, a redação do Correio do Povo no início da semana. Entrando no elevador centenário, já começo a experimentar um arrepio, algo parecido com saudade de amor partido. A primeira encrenca é virar a página e olhar aquele lugar onde você sentava e redigia as matérias. Dá uma coceira nos dedos e eles quase se governam e atacam as teclas do micro. Segura. Amarra as mãos que tu está de licença! Na conversa com a chefe de Reportagem, surgem umas idéias de pautas. Imediatamente, faço um relato para o pauteiro e me comprometo a alimentá-lo mais através de emails. Como a Gabriela Martins Trezzi, minha filha linda, me acompanhava e não queria ela desfilando muito pela redação porque ela “tá uma gata” e para não pegar o gosto pela profissão, não demorei. Tempo suficiente para relembrar a correria das pautas, o dead-line, dar uma beijoca na Sissi, lembrar a secretária Aline que quero agenda, conversar rapidinho com as gurias que eram minhas vizinhas de mesa, de abanar para alguns fotógrafos. Não consegui falar com a minha amiga Marcela. Nem cumprimentar o Diego pelo Prêmio Press. Nem abraçar os motoristas Negrini, Guigui, Beltran e Vladimir (os mais íntimos).
Foi o tempo necessário para reforçar que jornalista é uma espécie que nunca está contente. Talvez resida aí a principal qualidade da profissão. A insatisfação. Uma inconformidade que nos leva sempre a procurar mais do que nos é solicitado. Que nos impulsiona a ler a pauta nas entrelinhas. Que nos produz uma desconfiança em tudo. Que nos torna inconstantes. E o tempo ideal para sentir uma saudade louca deste mundinho.
Márcia Fernanda Peçanha Martins
jornalista em licença-saúde (coluna publicada em 12/12/2007)
2 comentários:
Maravilhosaaaaaaaa! Tu escreve bem pra caramba moça! Prêmio Pullitzer pra ti, beijus.
ahahahah
nada soninha
são teus olhos e tua vontade de ser gentil
bjs
Postar um comentário