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domingo, 6 de julho de 2008

Dia Nacional da Coluna Prestes

Comunista não come criancinha
Circula pela Internet uma arrepiante análise do professor da Universidade de São Paulo (USP) e do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), Emir Sader, sobre o filme “Olga”, baseado na obra-prima de Fernando Morais. No seu texto, o professor explica por inúmeras razões porque Olga incomoda. O texto abriu-se no meu e-mail como aqueles chatos que a gente não quer ler, oferecendo a cura de alguma doença ou uma maneira revolucionária de ganhar dinheiro. Mas ninguém consegue ficar imune e não ler um e-mail intitulado Por que Olga incomoda?
Vestida de uma coragem que sempre me acompanha quando o filme pressupõe cenas que possam machucar meu coração, resolvi encarar Olga. Longe de ser crítica literária ou conhecedora exímia da história, logo na primeira cena do filme já se sente um incômodo, que vai crescendo, quando o olhar de Olga, magnificamente interpretada pela atriz Camila Morgado, parece que quer travar um diálogo com o espectador. A cada cena parece que eu sinto mais vontade de dizer algo àqueles olhos que me pedem ajuda.
Esse, certamente, deve ser um dos motivos pelos quais Olga incomoda, permito-me concluir. Porque mostra como somos impotentes e covardes para lutar por melhores condições de vida, justiça social, terra para todos, direitos e deveres iguais. Sader diz que Olga incomoda porque conta a história de dois revolucionários como seres humanos, que amam e sofrem como qualquer um de nós com sentimentos normais. Olga não só me incomodou. Olga me fez pegar nojo e asco dos seres humanos desprovidos de sentimentos. Olga me fez pensar no futuro que desejo construir para a minha filha. Olga me fez refletir como é possível existir pessoas que desconhecem o amor ao próximo, a solidariedade, a humildade. Olga me deixou chorando mais do que o normal, principalmente porque mostra que comunista não come criancinha, como tentaram me ensinar no início da minha adolescência.
Duvido que alguma mãe consiga sair do cinema sem os olhos vermelhos depois que Olga engravida e passa a retratar os sentimentos de amor de uma mãe que carrega um feto em seu ventre. Mesmo que seja uma mãe de direita. Porque o filme Olga, decididamente, é um filme de esquerda. Olga Benário Prestes nos cutuca ao mostrar seu carinho incansável pela filha – e quantas vezes não temos tempo suficiente para a nossa que está ao nosso lado. Olga Benário Prestes nos irrita porque mostra o que uma mulher decidida e corajosa pode ser – e quantas vezes não nos amedrontamos por coisas tão banais.
Olga Benário Prestes nos convoca a lutar pelos direitos mínimos e primários de qualquer cidadão – e quantas vezes viramos o rosto para o menor que pede ajuda na esquina. Impossível é deixar de ver Olga. Não lembrar daquela mulher acariciando a única foto que tem da filha nos campos de concentração. Carregando como um pingente de ouro o único sapatinho de tricô que lhe restou da filha Anita. Inviável não guardar na imagem o momento em que ela deixa de amamentar e a filha é retirada do seu convívio na prisão. Depois é impossível não lembrar de todas atrocidades cometidas no mundo e de suas conseqüências e não se incomodar. Eu ainda me incomodo
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publicado originalmente no site www.coletiva.net em 14/09/2004
escrito por Márcia Fernanda Peçanha Martins

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