A ÚLTIMA FLOR DO LÁCIO (*)
Vocês já repararam na sonoridade da palavra gratidão? Bem mais do que o seu significado, e sim o sopro que venta nos ouvidos de quem a ouve. Tem algum vocábulo (fale sem pensar...) mais emocionante do que saudade? O sentimento de sentir saudade, falta de alguém ou de algo, a quem se estava acostumado ou utilizava muito freqüente, que é a saudade triste porque não concedemos a partida. Ou a saudade alegre que é recordar de tempos, amores ou situações que nos deixaram felizes no pretérito e, hoje apenas os cultuamos com carinho. Tantas palavras sonoras, melódicas e próprias, isto é, sobrevivem sozinhas, tem a nossa Língua Portuguesa.
Sabe-se lá o motivo (vou pesquisar depois), 21 de maio é o Dia da Língua Nacional, a Flor do Lácio, inculta e bela. E, pois, pois, raparigas de Portugal e moçoilos que me lêem, fiquei a pensar nas enormes possibilidades que a nossa língua nos proporciona. Sempre no sentido literário, seus apressadinhos. E mais. Principalmente na sua beleza, na sua majestosa composição de palavras. Quando uma vogal, exibida por considerar-se mais importante, visto que ela existe em menor número no alfabeto (pode achar-se em extinção), une-se a uma consoante e forma uma família com um significado múltiplo. A nossa língua tem tantos vocábulos bonitos!
Para quem desconhece a expressão “Última Flor do Lácio, inculta e bela” é o primeiro verso de um poema de Olavo Bilac, usado pelo poeta brasileiro que também ouvia estrelas para designar o nosso idioma. A interpretação seria de que a portuguesa é considerada a última das filhas do latim, inculta por culpa daqueles que já a castigavam (falando e escrevendo errado) – e vejam que ela escapou do gerundismo - e ainda assim, permanecia na opinião do poeta brasileiro (1865/1918) como a mais bela. Fernando “Pessoa, no Livro do Desassossego”, foi além ao dizer que a ortografia também é gente, “já que a palavra é vista e ouvida”.
Como Márcia também pode ser cultura (isto é para desviar a gafe de não saber o motivo da comemoração do dia 21), informo aos meus internautas que o português não é falado somente em Portugal e no Brasil. A língua, cuja origem retrocede ao latim falado na antiga Roma, inicialmente por um povo que vivia no Lácio, é a língua oficial de Portugal, Arquipélago dos Açores e Ilha da Madeira; Angola, Guiné-Bissau, Moçambique, Arquipélago de Cabo Verde e Ilhas de São Tomé e Príncipe (África), Macau (Ásia) e Timor Leste (Oceania). Sim, é claro, e no meu Brasil brasileiro, do Oiapoque ao Chuí.
Apesar de ser a mesma língua, apresenta-se em diferentes países com variações lingüísticas surpreendentes. Por isso, no segundo parágrafo desta coluna ao citar raparigas, fiz referência às portuguesas, com o significado de mulher de pouca idade no país de além mar. No Brasil, rapariga é um termo que, dependendo da região, quer dizer mulher que trabalha na prostituição ou as “trabalhadoras do sexo”, que é mais politicamente correto. Querem mais? No Brasil, chamamos esparadrapo e em Portugal, adesivo. Secretária eletrônica brasileira é atendedor automático; camisinha brasileira é durex; e chiclete é plástica elástica.
Desde adolescente (uns 14/15 anos), que no meu tempo tudo era mais tarde, eu pesquisava nomes estranhos e anunciava que era para colocar no time de futebol que eu iria parir, certamente. Não estou falando daquelas bobagens de “Um Dois Três de Oliveira Quatro”. Meus rebentos chamar-se-iam (em homenagem ao Lácio) Hipotenusa (todos sabem o que é), Hermitage (o nome de um edifício de Tramandaí), Clorofila (lindo), Prepúcio (logo se mataria); Niilismo, Gentamicina; Onomatopéia; Pleonasmo e tantos outros. Por sorte, adulta fiquei menos louquinha e tive uma única filha com o lindo nome de Gabriela.
Queria acrescentar um nome bem bonito e extenso (coisa de nobre, sabem?) ao Dalai, cachorro shih tzu da Gabriela, que é tão elétrico e infernal que poderia atender por Osama Bin Laden já que a paz não habita aquele corpo canino. Como espero estar viva para curtir meus netos reais e não caninos, ainda posso aplicar meus nomes de adolescente. Ainda resta uma esperança! E, me apropriando de Caetano Veloso (cantor, de boca fechada para outros assuntos), berro que “gosto da Pessoa, da rosa no Rosa, e sei que a poesia está pata a prosa assim como o amor está para a amizade....”
(Márcia Fernanda Peçanha Martins, postado originalmente no site www.coletiva.net)
quinta-feira, 22 de maio de 2008
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2 comentários:
BELÍSSIMO! ME FEZ VIAJAR NO TEMPO, DO LATIM ATÉ HOJE. OBRIGADA POR NOS TRAZER ESTAS CRÔNICAS , MÁRCIA.
BEIJOS.
querida stella
vc é mto amada
bjs
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