Seguidores

domingo, 8 de março de 2009

Dia Internacional da Mulher

ESSA MENINA, ESSA MULHER, ESSA SENHORA (*)
No dia 8 de março, comemora-se o Dia Internacional da Mulher e em todos os cantos são programadas homenagens pela data. Reconheço a importância do que aconteceu nesse dia, em 1857, na fábrica em Nova Iorque e todos os eventos posteriores até se chegar a 2009 com uma certa identidade feminina. Sempre fui a favor de todos os movimentos que defendem a igualdade, com justiça social, econômica e jurídica entre os seres. Esse é o motivo que me faz repudiar um pouco a existência de um Dia Internacional da Mulher, como se a data confirmasse que se trata de uma minoria ou para compensar perdas de outras épocas.

E, me aproprio de uma música da Joyce, brilhantemente interpretada pela Elis Regina, para narrar que todos os dias são das mulheres, dos homens, dos gays, lésbicas, simpatizantes, crianças, negros, brancos, amarelos, adultos ou adolescentes. Basta estar vivo e não se sentir minoria. No dia 8 de março, nenhuma mulher deixará de botar a mesa, tirar o pó dos móveis, lavar roupa, chorar por algum motivo bobo, rezar por todos. Mas, principalmente, ver se os alimentos para o almoço estão comprados, se o lanche da filha está adequado e o uniforme passado.

De tardezinha, como diz a música, essa menina se namora, se enfeita, se decora, se perfuma, sabe tudo, não faz mal. Independente de ter um Dia Internacional. Ser mulher, chorar de prazer e de agonia, fazer muito estrago quando se entrega a alguma paixão, tirar a roupa, virar a mesa, enlouquecer os homens ou quem desejar. Ao final, parecer que acha graça e agradecer ao destino aquilo tudo que a fará tão infeliz. Porque é difícil não ficar imaginando se haverá um telefonema no próximo dia, e separar sexo de amor, apesar de toda revolução feminina.

É hora de voltar para casa. Porque é preciso planejar o outro dia, refazer tudo, pensar na comida, olhar o tema da filha, ver as manchetes dos principais telejornais, se a sua profissão é jornalista. Antes de deitar-se, essa menina, essa mulher, essa senhora, em quem esbarro a toda hora no espelho casual, precisa deixar vista a roupa para um novo dia de trabalho, lembrar dos compromissos do próximo dia – a saída noturna lhe roubou esses momentos -, olhar a correspondência. Separar, pelas prioridades, as contas a pagar, deixar os recados para a empregada.

Essa mulher, no final do Dia Internacional da Mulher, já está pensando em dormir. Cansada, exausta, consumida. Depois de passar pela etapa diária de se lambuzar de cremes, ouve a filha chamar e, é claro, desloca-se até o quarto da pequena para ver do que se trata. É quando fica sabendo que a filha está com saudades: “por favor, mamãe, fique em casa amanhã de noite e não se esqueça de deixar o dinheiro para aquela atividade no colégio”. De quebra, avisa que o papai não vai poder ficar com ela no final de semana.

A rotina da mulher é assim. Sem grandes alterações, sem muito planejamento. Mas com muitos imprevistos, muita emoção, muito prazer nos pequenos gestos, muita sensibilidade, ternura e estresse. E não é essa carga imensa e desproporcional que me torna diferente de qualquer outra criatura, me faz inferior ou superior, mais forte ou mais fraca. Cada ser humano, brindado ou não com seu Dia Internacional, só colhe aquilo que plantou. Em todos os 365 dias do ano. E, nós, mulheres, somos feitas de tanta sombra e tanta luz, de tanta lama e tanta cruz, que achamos tudo natural.
(*) márcia fernanda peçanha martins, escrito originalmente em 2005 para o site www.coletiva.net

Nenhum comentário: