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sexta-feira, 13 de junho de 2008

Dia de Santo Antônio, 13 de junho


Eu pedi ao São João


Eu pedi numa oração ao querido São João que me desse matrimônio. Mas São João andava, há uns 20 anos, ocupadérrimo com obras nas igrejas que levam seu nome pelo mundo católico afora, dando penitência a alguns fiéis que não andavam na linha religiosa e ajudando outros colegas menos habilidosos. Com uma agenda tão lotada que esqueceu de me avisar que matrimônio era lá com Santo Antônio. Ao perceber que não me avisara que orava ao santo errado e nem encaminhara meu pedido ao português Antônio, São João providenciou um casamento, assim às pressas.
Destilando inveja (quem disse que eles não podem ser acometidos de algum sentimento humano pequeno??? em que salmo???), Santo Antônio cuidou para que o casamento não fosse eterno, mas infinito enquanto durasse. E, assim vivemos felizes quase 15 anos. O que pode ser considerado um tempo até bem razoável se considerarmos que o casamento foi abençoado pelo santo errado, os dois signos jamais iriam se combinar (é a única certeza da astrologia: gêmeos e escorpião não se entendem), convicções políticas antagônicas, gostos musicais diferentes e um casal de jornalistas com egos maiores do que poderiam carregar.
Não vou ficar alugando o seu precioso tempo narrando as aventuras e desventuras do meu casamento, que terminou exatamente no dia da DR (Discutir a Relação). Apenas achei conveniente fazer essa pequena introdução depois de constatar os preparativos da Paróquia de Santo Antônio para comemorar o Dia do Santo Casamenteiro, comemorado em 13 de junho. E ao constatar inúmeras atividades na paróquia, culminando com a tradicional procissão luminosa, fiquei me perguntando tamanho poder e carisma que carrega o santo de origem lusa.
Pois, pois... Deve ser porque a maioria das pessoas já aprendeu que para pedir casamento, dos duradouros, que comemoram bodas de ouro, até que a morte os separe (será que não fica muito tedioso?), na alegria e na tristeza, na saúde e na doença, deve dirigir-se ao Santo Antônio. Não é bom errar de santo. Cada um tem a sua missão. Como vocês já perceberam, não sou uma especialista em santos, mas agora, tardiamente, sei que São João é mais festeiro. Ele gosta mesmo é de comer rapadura, pé de moleque, pipoca, bolo de fubá, pinhão, e um quentão bem gostoso para espantar o frio que sempre faz na noite de 24 de junho.
Mas São João e Santo Antônio não chegaram a se desentender pelo fato do primeiro interferir no trabalho do segundo no meu pedido equivocado de casamento. Inclusive, pela proximidade da data comemorativa dos dois santos católicos (13 de junho, Antônio, e 24 de junho, João), as duas no mês junino, as simpatias para conquistar marido, namorado, companheiro ou o que se desejar, podem ser feitas na festa de qualquer um deles. É claro que se o caso exigir um poder maior – em se tratando de alguém “encalhado” há muito tempo ou de difícil aceitação no mercado – é melhor recorrer direto ao Antônio.
No sábado, tem a tradicional festa junina do aniversário da minha filha aborrescente/adolescente/funkeira Gabriela Martins Trezzi, e como mãe que adora pagar mico e passar atestado de super, irei acompanhá-la. Como será quase no meio da comemoração do dia dos dois santos, vou aproveitar para agradecer os serviços até agora realizados por João e Antônio. Muito esperta. Dou uma controlada na minha filha, que tá cada dia mais linda, sondo um pouco os professores para saber se ela diminuiu a conversa e me livro da tortura que é chegar perto da cozinha ao almoçar no colégio.
Estas constatações me lembraram que não sou exatamente católica, nem atéia. Posso dizer que tenho uma tendência para o espiritismo, mas não uma praticante convicta, porque creio que tudo tem seu tempo e se ainda não encontrei o meu é que não é a hora. Creio em alguma força superior, um ser maior que criou nosso destino, um Deus que atende por vários nomes nas mais diversas religiões. Foi esse Deus que me presenteou, sem eu pedir, com coisas tão importantes e infinitamente mais preciosas do que um casamento eterno: a minha filha saudável; uma família admirável; uma profissão honrada; e amigos indescritíveis. Isso é vida.

Márcia Fernanda Peçanha Martins

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